Chaos Engineering é uma abordagem que busca criar um plano para o inesperado. Essa prática, ainda pouco utilizada, tem como objetivo avaliar a capacidade de um workload de suportar condições adversas de maneira controlada, simulando cenários da vida real.
Desmistificando a Ideia de “Quebrar a Produção”
Muitos associam a Engenharia do Caos a interrupções descontroladas em produção. No entanto, essa percepção é equivocada.
A Engenharia do Caos não é “quebrar a produção”, mas sim uma abordagem disciplinada para simular falhas em ambientes seguros. Os experimentos são planejados cuidadosamente e os resultados analisados para identificar vulnerabilidades e implementar melhorias. Essa prática ajuda equipes de DevOps e SREs a:
- Reagir: Adotar medidas corretivas eficazes em caso de falhas.
- Mitigar: Reduzir o impacto de eventos inesperados.
- Antecipar: Prevenir problemas antes que ocorram.
Compreender as falhas, sejam elas de código ou infraestrutura, é crucial para evitar catástrofes em produção. Como bem define Laurent Domb, Chaos Engineering é “um mecanismo para revelar os ‘conhecidos-desconhecidos’ (coisas que estamos cientes, mas não entendemos completamente) em nossos ambientes ou ‘desconhecidos-desconhecidos’ (coisas das quais não estamos cientes, nem entendemos completamente)” (fonte: Chaos Engineering in the cloud | AWS Architecture Blog).
Vantagens do Chaos Engineering
A Engenharia do Caos oferece uma série de vantagens para as equipes e organizações que a implementam, contribuindo para a construção de sistemas mais resilientes e confiáveis. Veja alguns dos principais benefícios:
- Compreensão profunda do impacto de falhas: simular falhas em um ambiente controlado permite entender como cada componente do sistema se comporta em situações adversas. Isso possibilita identificar gargalos, dependências ocultas e pontos fracos na arquitetura.
- Melhoria da observabilidade: ao analisar as reações do sistema durante os experimentos de Chaos Engineering, você identifica quais métricas são mais relevantes para monitorar a saúde da sua aplicação e obtém insights valiosos para aprimorar o sistema de monitoramento como um todo.
- Criação de planos de contingência eficazes: com base nos resultados dos experimentos, você pode desenvolver planos de contingência mais robustos e eficientes, preparando a equipe para lidar com diferentes cenários de falha.
- Aumento da confiança na resiliência do sistema: a confiança na capacidade do sistema de suportar falhas aumenta, reduzindo o medo de interrupções inesperadas e proporcionando maior tranquilidade para a equipe e para os usuários.
- Redução de custos: ao identificar e corrigir vulnerabilidades antecipadamente, você previne falhas em produção que podem gerar perdas financeiras e danos à reputação da empresa.
- Cultura de aprendizado e colaboração: a prática da Engenharia do Caos promove uma cultura de aprendizado contínuo e colaboração entre as equipes, incentivando a comunicação e o trabalho em conjunto para solucionar problemas.
- Inovação e melhoria contínua: ao desafiar constantemente o sistema, a Engenharia do Caos impulsiona a inovação e a busca por soluções mais resilientes, estimulando a melhoria contínua da arquitetura e dos processos.
Chaos Engineering na AWS
Ao aplicar Chaos Engineering em ambientes de nuvem, é essencial entender o modelo de responsabilidade compartilhada da AWS:
- A AWS é responsável pela resiliência da infraestrutura da nuvem.
- Você é responsável pela resiliência dos recursos e serviços utilizados dentro da nuvem.
Uma ferramenta central para essa prática é o AWS Fault Injection Simulator (AWS FIS), projetado para testar como seus workloads reagem a eventos adversos.
AWS Fault Injection Simulator (FIS)
O AWS FIS é uma ferramenta baseada nos princípios da Engenharia do Caos. Ele cria experimentos em recursos reais para entender e melhorar a resiliência de suas cargas de trabalho.
Vale ressaltar que o AWS FIS cria eventos reais e aplica eles aos seus recursos reais. Portanto, a recomendação é que seja feito um planejamento de execução, e que se utilize um ambiente de pré-produção.
Componentes Principais:
Para usar o FIS você cria experimentos utilizando os modelos de experimentos, onde você definirá as ações, o alvo as condições de parada.
- Ação: Define o que o AWS FIS fará durante o experimento (ex.: degradar desempenho da CPU).
- Alvo: Determina o recurso que será afetado (ex.: instâncias EC2).
- Condições de Parada: Gatilhos para interromper o experimento, geralmente monitorados pelo CloudWatch.
Exemplos de Ações no AWS FIS
O AWS FIS oferece uma variedade de ações para simular diferentes tipos de falhas. Aqui estão alguns exemplos:
- Instâncias EC2: Simular interrupção, perda de conectividade ou degradação do desempenho.
- Serviços AWS: Testar falhas em Amazon S3, DynamoDB ou Kinesis.
- Erros em Aplicações: Injetar latência, simular erros de API ou corromper dados em trânsito.
Métricas de Sucesso
Definir métricas é essencial para avaliar os resultados dos experimentos. Algumas métricas importantes incluem:
- Latência: Tempo de resposta das requisições.
- Taxa de Erro: Percentual de requisições com falha.
- Disponibilidade: Tempo em que o sistema permaneceu operacional.
- Throughput: Transações processadas por unidade de tempo.
No esquema abaixo, você consegue visualizar uma demonstração da ação do AWS FIS.
Implementando Chaos Engineering de Forma Gradual
A implementação do Chaos Engineering pode ser gradual. Comece com experimentos simples e controlados em ambientes de teste. À medida que sua equipe ganha experiência e confiança, aumente a complexidade e o escopo dos experimentos, avançando para ambientes de pré-produção e, eventualmente, produção.
- Comece Simples: realize experimentos pequenos em ambientes de teste.
- Aumente a Complexidade: expanda para ambientes de pré-produção conforme ganha experiência.
- Monitore e Ajuste: use os resultados para aprimorar sua infraestrutura.
Conclusão
A Engenharia do Caos é uma ferramenta poderosa para construir sistemas resilientes na AWS. Com o AWS FIS, você pode simular falhas de forma controlada, identificar vulnerabilidades e fortalecer sua infraestrutura. Ao adotar essa prática, você garante que seus sistemas estejam preparados para enfrentar o inesperado e oferecer a melhor experiência para seus usuários.
Lembre-se:
- Comece com experimentos simples e controlados.
- Defina métricas claras para medir o sucesso.
- Utilize o AWS FIS para simular falhas e coletar dados.
- Analise os resultados e implemente melhorias.
- Promova uma cultura de aprendizado e colaboração.
Ao seguir essas dicas, você estará no caminho certo para dominar a arte do Chaos Engineering e construir sistemas mais resilientes e confiáveis na AWS.
E você, já utiliza Chaos Engineering na AWS? Compartilhe suas experiências e dúvidas nos comentários!
Respostas de 3
Ótimo texto e bem explicativo sobre o que é e para que serve a Chaos Engineering (ou engenharia do caos hehe) Obrigado pela explicação!
Obrigado pelo comentário Davi, busquei ser o direto e claro sobre o assunto.
Texto muito bom, você escreve extremamente bem. Eu nem conhecia esse tipo de abordagem, muito interessante! Eu tenho um pouco de medo de usar a AWS kkkk mas aparentemente é um assunto que você domina.